Como coordenador do projeto, fico imensamente grato, não pelo número em si, mas pelo significado que esse alcance carrega: trata-se de um tema relevante, que mobiliza e tem causado reflexão em cada vez mais pessoas.
Acredito que uma das partes mais complexas foi garantir que todas as etapas do processo fossem coesas e fiéis ao propósito — desde a concepção da linha narrativa, passando pela produção das pesquisas qualitativa e quantitativa e chegando ao vídeo final.
Capitaneada pela Juliana Fava, a etapa qualitativa do estudo entrevistou dezenas de especialistas com diferentes enfoques sobre temas relacionados às masculinidades, assim como homens de origens e recortes diversos.
Os achados dessa fase serviram para nortear a pesquisa quantitativa, conduzida pela equipe da Zooma Inc. e que alcançou 47.002 respostas de pessoas por todo o Brasil, agrupando dados sobre as construções e percepções das masculinidades e, a partir daí, extraindo as histórias mais significativas.
Depois disso, ainda contamos com o apoio de Gustavo Venturi, como consultor em gênero e masculinidades, e o trabalho do Estudio Nono, que transformou uma montanha de números em um relatório visualmente lindo e gostoso de ler (e entender).
Alguns dos números que mais impactaram:
Para que a pesquisa se aproximasse da base do IBGE (chegando à margem de erro de 1% e grau de confiança de 95%), foram feitas ponderações por raça, gênero, região do Brasil, idade e escolaridade. Essas ponderações geram dados preciosos e nos permitem fazer comparações entre homens de recortes diferentes entre si.
Para mim, alguns dos números mais marcantes surgiram dessas comparações. Por isso, além de recomendar que leiam na íntegra a parte 1 do report no link acima, vou destacar alguns números que, pessoalmente, me chamaram bastante atenção. (Ainda vamos lançar um report só sobre a percepção das mulheres e outros sobre como conduzir grupos de homens por exemplo),
Os homens parecem estar se sentindo mais sozinhos e confusos. 1 em cada 4 homens de até 17 anos afirma se sentir solitário sempre. E 37% deles nunca conversou com ninguém sobre o que significa ser homem.
Ao todo, apenas 3 em cada 10 homens possuem o hábito de conversar (sempre ou muitas vezes) sobre os seus maiores medos e dúvidas com os amigos.
Um marcador interessante em relação a esse número, inclusive, foi em relação à orientação sexual. Entre homens LGBTQIA+, esse hábito é mais presente: cerca de 40%, contra apenas 26% quando a amostragem é limitada aos heterossexuais.
Os homens não-heterossexuais podem ensinar uma ou duas coisas a seus amigos heterossexuais
Outro número inédito que me marcou diz respeito à saúde mental dos homens.
A cada 10 homens que responderam a pesquisa, 6 afirmam lidar hoje com distúrbios emocionais (muitos ainda não diagnosticados), em algum nível — ansiedade, depressão, vício em pornografia e insônia são os mais comuns.
Apesar disso, os homens evitam buscar ajuda. Apenas 1 em cada 10 já foi ao psicólogo.Vícios como álcool, demais drogas, comida, apostas e jogos eletrônicos também foram muito presentes na amostragem.
Dados sobre a construção das masculinidades
Quem frequenta o PapodeHomem há algum tempo não é estranho ao conceito da Caixa do Homem, que diz respeito a uma série de comportamentos esperados de quem performa masculinidade. Um dos nossos principais objetivos ao promover a pesquisa era tentar quantificar quanto algumas dessas premissas estão presentes na formação dos meninos.
Em nossa pesquisa, identificamos o quanto os homens concordam terem sido ensinados cada uma das crenças a seguir, durante a infância e adolescência:
Ser bem sucedido profissionalmente. (85%)
Não se comportar de modos que pareçam femininos. (78%)
Ser fisicamente forte. (73%)
Ser o responsável pelo sustento financeiro da família. (67%)
Não expressar minhas emoções. (57%)
Dar em cima das mulheres sempre que possível. (48%)
Somente 2 a cada 10 homens dizem ter tido exemplos práticos de como lidar com as suas emoções.
Masculinidades Negras
“O homem negro não é um homem.”
— Frantz Fanon, psiquiatra, filósofo e ativista
Como diz o sociólogo Túlio Custódio no documentário, a categoria existencial do homem pressupõe e foi pensada a partir da branquitude. Em busca de um aspiracional inatingível, muitas vezes o homem negro é compelido a ser “mais homem” que os outros, tentando atingir um reconhecimento que nunca chega (pois, dessa forma, não cabe a ele).
Nesse sentido, enquanto homem negro, para mim era essencial entender como o recorte de raça afeta o nosso entendimento sobre o que é ser homem. Assim que recebi os números ponderados, fui atrás de separar as respostas de homens negros e brancos sobre alguns desses marcadores da “caixa do homem”:
79% concordam completamente ou em parte que, quando meninos, aprenderam que deveriam ser fortes fisicamente. Entre os brancos, o índice foi de 71%
76% concordam completamente ou em parte que, quando meninos, aprenderam a não demonstrar fragilidades. Entre os brancos, o índice foi de 72%
62% concordam completamente ou em parte que, quando meninos, aprenderam a não expressar emoções. Entre os brancos, o índice foi de 56%
56% concordam completamente ou em parte que, quando meninos, aprenderam que deveriam ser dominantes em relações amorosas. Entre os brancos, o índice foi de 49%
49% concordam completamente ou em parte que, quando meninos, aprenderam a gostar de pornografia. Entre os brancos, o índice foi de 45%
Apenas 40% afirma que teve exemplos práticos e boas conversas sobre o que é ser homem. Entre os brancos, o índice foi de 45%
Eu já desconfiava, mas ver a hipermasculinização do homem negro quantificada me fez pensar e entender sobre muito do que já senti ou li à respeito. Na fase de entrevistas qualitativa, o mestre em Relações Étnico-Raciais Henrique Restier colocou essa questão da seguinte forma:
“Todos esses estereótipos, essas representações dos homens, no sentido pejorativo, ou seja, como vilões, violentos etc., quando chega no homem negro você tem isso duplicado.
— Henrique Restier
“Porque os estereótipos dos homens negros recaem muito no corpo, então é negão, é o homem forte, duro, áspero, violento. Essa carga é muito mais forte quando você tem o recorte racial.
Você tem muitos homens que enfrentam problemas para discutir a masculinidade porque já são vistos, a princípio, com esse estigma do homem que não pensa, do homem vinculado ao seu corpo, o homem negro não teria, do ponto de vista racista, muita sofisticação intelectual, isso tá muito preso aos estereótipos físicos”, segue Henrique Restier.
Boa notícia: os homens querem romper o silêncio.
Quebrar o silêncio e conversar entre nós, homens, de forma madura e responsável, se implicando e falando em primeira pessoa, é um excelente primeiro passo para combater a restrição emocional e as dores que derivam dela.
Uma das maneiras de fazer isso é se juntando a grupos de homens (ou criando um). Apesar de só 1 em cada 10 homens afirma já ter participado de algum grupo com esse viés de trocas de informação e diálogo, 61% dos homens entrevistados afirma ter vontade de se juntar a um.
De cá, esperamos que esse material (pesquisas, filme) possam inspirar conversas, reflexões e o surgimento de grupos focados na transformação dos homens e das masculinidades por todo o Brasil, em busca de um mundo mais equitativo e justo para todas e todas.
E para você, da comunidade do PapodeHomem: algum número da pesquisa ou filme te chamou atenção? Se sim, qual foi e por quê?
9.5 / 10
avaliação média das milhares de pessoas participantes de nossas palestras e workshops.
+2 milhões
de pessoas já assistiram nossos documentários em plataformas online.
400+
palestras e treinamentos realizados em empresas, órgãos públicos, fundações e escolas, impactando milhares de pessoas.
500+
atividades voluntárias (rodas, debates, exibições) realizadas em todo o país, à partir de nossos filmes e pesquisas.
17 anos
nossa experiência no campo das masculinidades.
90%
das pessoas que participaram de nossos treinamentos afirmam que suas crenças e ações cotidianas foram impactadas, em alguma medida.
Com o Instituto PDH tivemos a oportunidade de colocar homens e mulheres em um mesmo espaço para discutir, tranquilamente, um tema que muitas vezes é desafiador. E vimos as pessoas atentas e engajadas do começo ao fim. Saio muito satisfeita com o resultado.
Quézia de Araújo Duarte Nieves Gonzalez. Desembargadora e Vice Presidente do TRT-SC.
A gente precisa aprender coisas do zero, porque não basta boa vontade, a gente precisa de informação. A parceria com o Instituto PDH reúne as duas coisas: a sensibilização com informação.
Juiz Alessandro da Silva. TRT- SC.
Aprendi com o Percurso Masculinidades Responsáveis não só como ser um aliado, mas também que precisamos transformar nossas visões sobre o que significa ser homem. Isso me beneficiou minhas posturas tanto dentro da 3M como fora dela.
Douglas Ramos
Líder de D&I e Vice-Presidente do Instituto 3M
“O Percurso é uma excelente ferramenta para a mudança, nos ajudando a avançar em nossas metas de transformação cultural em diversidade, equidade e inclusão com uma linguagem que conversa com todos.”
Wellington Silvério
Diretor global de RH da John Deere
“O curso PMR, do Instituto PDH, é a espinha vertebral do nosso trabalho de conscientização dos homens na John Deere, em escala.”
Marcelo Garcia
Otimização de Negócios na John Deere
“Temas duros foram trazidos de forma leve, assertiva e empática. Depoimentos genuínos e perguntas profundas vieram à tona de vários participantes. Que vivência transformadora!“